Fonte: O Tempo – Foto: Pixabay
A imunoterapia é um dos grandes avanços dos últimos anos no campo da oncologia, um tratamento que está demonstrando sua eficácia contra um número crescente de cânceres, afirmam os especialistas reunidos em um congresso em Barcelona. O congresso anual da Sociedade Europeia de Oncologia Médica (Esmo), na Fira Barcelona, em Barcelona, Espanha. É um evento chave dedicado à luta contra o câncer, e reúne os maiores especialistas internacionais, nesse domingo (15).
A imunoterapia é considerada “revolucionária”, especialmente em casos como o “triplo negativo”, uma forma particularmente grave e resistente de câncer de mama. Este tratamento já não age diretamente sobre a célula cancerosa, mas estimula o sistema imunológico do paciente para que combata os tumores.
No Esmo, médicos especialistas e pesquisadores destacaram um tratamento que já mostrou resultados promissores em cânceres de pulmão e pele (melanoma), e que melhora a sobrevivência a longo prazo contra muitos outros tumores.
É o caso, por exemplo, do câncer de mama triplo negativo (TNBC na sigla em inglês). Particularmente agressivo, afeta cerca de 9 mil mulheres a cada ano, muitas vezes jovens. É particularmente difícil de tratar, principalmente porque não responde à administração de estrogênio ou progesterona, bases de outros tratamentos comumente utilizados em outras formas de câncer de mama.
Associação de tratamentos melhora sobrevida
No entanto, a imunoterapia, associada à quimioterapia, uma combinação administrada antes e depois da cirurgia, permitiu uma melhora na sobrevivência a longo prazo das pacientes com câncer triplo negativo, de acordo com um estudo apresentado nesse domingo (15).
Segundo os resultados do estudo, a taxa de sobrevivência global em cinco anos foi de 86,6% nos pacientes que receberam imunoterapia e de 81,7% no grupo placebo.
“Esperamos menos recaídas”
Isso prova que “o uso da imunoterapia permite aumentar a eficácia da quimioterapia”, explica François-Clément Bidard, oncologista do Instituto Curie em Paris. E quando é administrada antes da cirurgia, as chances de eliminar completamente as células tumorais antes da operação são maiores.
“Agora esperamos menos recaídas, portanto, curar mais, que é o objetivo final em oncologia”, comenta Benjamin Besse, oncologista médico no Hospital Gustave-Roussy, ao sul de Paris.
Michèle Borges-Soler, 51, se beneficiou deste tratamento. Hoje está em remissão de um câncer de mama triplo negativo diagnosticado em novembro de 2022. “Um câncer avançado, rápido e agressivo”, disseram os médicos na época.
“No início, não era operável”, conta. Mas a paciente passou a fazer parte das primeiras a serem tratadas com imunoterapia. Associado à quimioterapia, o tratamento deu “resultados encorajadores” e possibilitou uma operação em junho de 2023. Desde janeiro, ela não toma “nenhum medicamento”. “Acho que é possível que nunca haja uma recaída”, espera essa “eterna otimista”.
Perguntas sem respostas
Uma melhora similar na sobrevivência global com a administração de imunoterapia antes da cirurgia foi observada em um estudo apresentado no Esmo sobre pacientes com câncer de bexiga invasivo a nível muscular.
No sábado, os resultados de um estudo sobre o câncer de colo do útero localmente avançado e de alto risco também trouxeram conclusões semelhantes: uma combinação de imunoterapia e quimioterapia mostrou uma taxa de sobrevivência global em três anos de 82,6% nos pacientes envolvidos, em comparação com 74,8% daqueles que não receberam imunoterapia.
“A principal mensagem de todos esses estudos é que a imunoterapia continua cumprindo suas promessas e gera esperança de uma sobrevivência a longo prazo para muitos pacientes com diferentes tipos de câncer”, declarou Alessandra Curioni-Fontecedro, professora de oncologia na Universidade de Friburgo.
“Em muitos cânceres, vimos que estimular o sistema imunológico antes da cirurgia melhora substancialmente a sobrevivência”, comentou Jean-Yves Blay, presidente da Unicancer, uma associação de centros oncológicos franceses. Na opinião do especialista, isso representa um “ponto de virada” na pesquisa sobre o câncer.
No entanto, ainda restam questões importantes sem resposta: por que a imunoterapia não funciona em algumas pessoas e por que certos cânceres recaem em pacientes que inicialmente pareciam responder ao tratamento.
Os efeitos colaterais, mais ou menos graves, que a imunoterapia pode induzir também devem ser considerados antes da administração desse tratamento. (AFP)
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