Fonte: Uol – Foto: Reprodução/iStock
A fumaça das queimadas por todo o país — que já se espalham há cerca de um mês — vem aumentando as queixas de olho seco nos postos de saúde, além de atendimentos por problemas respiratórios. O tempo também não ajuda: com uma mancha de ar seco cruzando o Brasil, o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), colocou 12 estados em alerta por baixa umidade relativa do ar.
Olho seco é doença?
Depende. Com o tempo seco, o poder de lubrificação do olho de todo mundo naturalmente diminui, Muitas pessoas manifestam alergias oculares e, em tempos de estiagem, é comum aparecerem os casos de conjuntivites alérgicas.
Isso acontece porque as micropartículas de poeira — que estão presentes em maior concentração nas últimas semanas devido às queimadas — ficam mais tempo em suspensão no ar graças à baixa umidade, entrando em contato com nossas mucosas (olhos, nariz e garganta), e favorecendo as alergias. Além disso, a lágrima natural produzida pelos olhos evapora mais rápido em tempo quente.
Os olhos podem ficar mais irritados graças à fuligem das queimadas e ao tempo seco
Em alguns casos, este não é um desconforto apenas trazido pelo mau tempo, mas agravado por ele. Chamado de “doença do olho seco”, este quadro é causado por uma diminuição ou alteração da produção da qualidade da lágrima, o que pode fragilizar os olhos.
A lágrima é fundamental para a manutenção da transparência da córnea, que é essa lente que a gente tem na frente do olho. A lágrima nutre a célula da superfície da córnea, protege de infecções e regulariza. Então, ela tem também uma função óptica.
Quem pode ter olho seco?
Existem pessoas com maior ou menor predisposição a desenvolver a doença. Geralmente, quem tem alergias pode ter olho seco, mas não necessariamente quem tem olho seco tem alergias
Além dos alérgicos, têm facilidade para desenvolver o olho seco segundo o Conselho Brasileiro de Oftalmologia:
Idosos, já que a produção de lágrimas diminui com o envelhecimento;
Mulheres, especialmente após a menopausa devido a mudanças hormonais;
Pessoas com artrite reumatoide, diabetes e doenças da tireoide;
Quem faz uso de lentes de contato;
Quem toma anti-histamínicos, antidepressivos e medicamentos para pressão arterial que podem afetar a produção de lágrimas;
Quem se recupera de cirurgia ocular;
Pessoas expostas a longos períodos em frente a telas (computador, tevê e celular);
Aqueles expostos a vento, fumaça e ar seco
Quais são os sintomas?
O quadro pode variar bastante, desde um incômodo passageiro aos mais severos da síndrome ou doença do olho seco:
Sensação de ardência;
Coceira;
Vermelhidão;
Visão embaçada que melhora ao piscar;
Sensibilidade à luz;
Sensação de ter algo dentro do olho;
Muito tempo ao celular também pode causar fadiga ocular e olho seco
Imagem: Katemangostar/ Freepik
Quais os riscos?
Em casos mais graves, o olho seco pode levar à inflamação da superfície ocular, ulcerações na córnea e até mesmo perda de visão. Por isso, mesmo que a vontade seja grande, é importante não coçar os olhos para evitar lesões que prejudiquem a visão ou “abram portas” para microrganismos.
Coçar os olhos pode ser muito prejudicial, levando inclusive a algumas doenças mais graves, como o ceratocone (curvatura da córnea). Além disso, é importante ressaltar que os olhos podem ser portas de entrada para vírus, incluindo o Coronavírus. É fundamental evitar coçar os olhos.
Como lidar com o olho seco?
Em primeiro lugar, é importante consultar o oftalmologista para determinar se a sua produção de lágrima está normal — e a secura é só resultado do tempo seco. Para isso, o profissional poderá fazer exames como:
Teste de Schirmer, que mede a produção de lágrimas;
Teste de osmolaridade, que avalia a concentração de partículas nas lágrimas;
Análise da qualidade da lágrima de acordo com a composição, para garantir que ela não esteja evaporando rápido demais.
A partir dos resultados, o médico pode prescrever colírios lubrificantes (ou lágrimas artificiais), para casos leves ou anti-inflamatórios tópicos e remédios para estimular a fabricação das lágrimas em casos mais graves.
Não coce os olhos para evitar a piora da situação
Se houver necessidade, pode ser necessária realizar o “fechamento” dos pontos lacrimais, em que alguns dutos por onde passam as lágrimas são bloqueados para conservá-las nos olhos por mais tempo.
Em casa
Para aliviar os sintomas em casa, aposte em:
Umidificadores de ar para aliviar a “secura” do ambiente;
Fazer pausas regulares ao usar o computador e piscar frequentemente para manter os olhos lubrificados;
Manter uma dieta rica em ácidos graxos (nozes, abacate, azeite) e ômega-3 (peixes como salmão e sardinha);
Troque a vassoura e o espanador por pano úmido e aspirador na faxina, para não levantar poeira;
Use colírios lubrificantes sem conservantes, conforme recomendado pelo médico;
Faça compressas com água fria ou lave o rosto na pia;
Não coce, mas se por algum motivo precisar colocar a mão nos olhos, lave-as muito bem antes;
Use maquiagem de boa procedência e limpa;
Não compartilhe lápis, máscara ou pinceis com ninguém, para não expor os olhos a microorganismos ou materiais que causem alergia;
Não durma de maquiagem
Truque para quem usa muito computador ou celular: siga a “20-20-20 Rule”, regra da Canadian Association of Optometrists (CAO) que recomenda que, a cada 20 minutos, se faça uma pausa de 20 segundos e focalize o olhar em um objeto localizado a 20 pés de distância, algo em torno de seis metros. Esta prática ajuda com a secura e com a fadiga ocular.
Fontes: Hallim Féres Neto e José Alvaro Pereira Gomes, oftalmologistas, e Agência Brasil
*Com informações de matéria publicada em 20/04/2022
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