Fonte: Itatiaia – Foto: Ricardo Bufolin/CBG
Rebeca Andrade não é vaidosa e diz sempre encarar as competições uma por vez, sem pensar em recordes ou em títulos, mas as três medalhas que conquistou nos Jogos Olímpicos de Paris-2024 – duas de prata e uma de bronze – lhe permitem ser um pouco cabotina e se comparar a notáveis ídolos do esporte brasileiro.
“Os meus sonhos estão sendo alcançados e eu estou ficando gigante, né?”, reconheceu a ginasta, vice-campeã olímpica no individual geral e no salto, além do bronze por equipes nos Jogos de Paris.
As conquistas a fizeram igualar Torben Grael e Robert Scheidt. Por conta desse desempenho, ela agora é, junto dos ex-velejadores, a maior medalhista brasileira das Olimpíadas, com cinco medalhas.
Rebeca pode se sentir confortável de se equiparar a ídolos que a inspiraram, como Ayrton Senna. “É muito legal pelo tamanho, mas poder representar e ter um orgulho, ser referência é algo que eu vou levar para sempre comigo. Como a gente vê o Senna, como a gente vê vários esportistas que a gente pensa assim: “caramba, ele foi gigante. Olha como ele me inspira, olha como ele falou, olha como ele fez, olha como ele é. É muito legal ver o que a gente está conquistando”.
Rebeca está a uma medalha de se tornar a atleta do Brasil com mais medalhas olímpicas na história. Ela ainda compete em mais duas provas – trave e solo – e pode deixar Paris com cinco medalhas. Enquanto não atinge o feito, ela evita se colocar como o maior nome do País no esporte olímpico.
“Só vou considerar quando o resultado sair”, afirmou. “O resultado é consequência do trabalho. Então vai ser mais um dia intenso. Trave para a cabeça, solo para o corpo mesmo, pega muito. Espero conseguir fazer excelentes provas para que eu seja a maior da história”.
Ginasta cita Viola Davis
A uma medalha de se isolar como a atleta com mais medalhas olímpicas da história do Brasil, Rebeca Andrade começou na ginástica cedo. Desde os 9 anos, quando a atleta foi morar em Curitiba para treinar, que a ginástica afasta a ginasta da mãe, Rosa Santos. Mas a distância não existe em Paris. Rosa fez sua primeira viagem internacional para acompanhar uma competição da filha e viu de perto, a poucos metros, sua Rebeca ganhar um bronze e duas pratas – há a possibilidade de ela conquistar mais duas medalhas.
Depois de faturar a prata no salto nesse sábado, Rebeca seguiu o mesmo protocolo pelo qual já havia passado na terça-feira e na quinta, quando levou o bronze por equipes e a prata no individual geral. Subiu ao pódio, deu entrevistas para as emissoras de televisão, falou em coletiva de imprensa e, depois, para jornalistas na zona mista. Mas uma mudança importante no rito lhe surpreendeu e deixou a ginasta sem conseguir esconder o sorriso: a presença da mãe. Rosa está em Paris desse sábado, mas mãe e filha só haviam se visto duas vezes antes dessa quinta-feira, devido aos compromissos da ginasta. Depois da competição, elas deram um abraço longo e mataram a saudade. “Só estava faltando o abraço da minha mãe”, disse Rebeca, com mais uma medalha no peito, a terceira que conquistou em Paris.
“Eu vejo minha mãe na competição, mas não tinha conseguido dar um abraço ainda nela porque a competição acaba tarde, tem o doping, o cansaço”, justificou a brasileira com mais medalhas olímpicas na história.
Rosa teve sua viagem a Paris e a estada na capital francesa bancada por uma das patrocinadoras da atleta, a Parmalat. Ela havia visto a filha competir nos Jogos Olímpicos do Rio, em 2016, mas não pôde assisti-la de perto nas Olímpiadas de Tóquio, em 2021, quando a filha saiu com o ouro no salto e a prata no individual geral, devido às restrições impostas pela pandemia.
“É maravilhoso ter ela aqui. De todos os sonhos que já tive pra minha mãe, nunca tinha sonhado levá-la para outro país para me assistir. Já tinha sonhado em fazer uma viagem mãe e filha fora do Brasil, mas para me assistir, não. Foi lindo”, celebrou a brasileira.
Cria de um projeto social, Rebeca teve fundamental ajuda da mãe, que era empregada doméstica e é mãe de outros sete filhos, para se desenvolver no esporte. A ginasta andava duas horas a pé para treinar no Ginásio Bonifácio Cardoso, na Vila Tijuco, em Guarulhos. Depois, o irmão mais velho comprou uma bicicleta usada para levar a irmã. “Minha mãe que é a grande campeã. Ela é demais”, resumiu Rebeca.
“É muita emoção. É o nome da minha filha. Me sinto honrada, privilegiada de ter oito filhos maravilhosos e uma medalhista”, afirmou Rosa após abraçar a filha. “São sonhos que realizamos juntas. Chorei um pouco nas competições, depois foi só alegria”
Para Rosa, a rivalidade entre sua filha e Simone Biles, americana que neste sábado faturou o ouro no salto e venceu sua décima medalha olímpica, é saudável, e as declarações da americana dizendo que não mais queria competir contra a brasileira, são sinceras e respeitosas. “Não vi como arrogância, vi como um desconforto natural. É natural que se assuste. Tenho percebido assim. Não tenho leitura de rivalidade bruta, vejo uma rivalidade saudável”, opinou.
Mensagem de Viola Davis
Famosa mundialmente, a estrela da ginástica brasileira recebeu parabéns até de Viola Davis quando faturou a prata no individual geral, há dois dias. “Eu te amo, Rebeca!! Parabéns”, escreveu a atriz americana no Instagram da atleta. A brasileira contou que reagiu com incredulidade quando viu o comentário.
“Eu quase desmaiei quando vi a mensagem. Ela falou que me ama. Vocês têm noção?”, disse, com surpresa. “Eu me tremi toda quando eu vi a mensagem. Fiquei mais nervosa lendo a mensagem dela do que para saltar hoje”.
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